Finalmente, um disco de “Nova MPB” que não tem os mesmos, mesmos, mesmos timbres de sempre: registro vocal derivado da Bebel Gilberto, violão acústico e batuque primário à frente de tudo na mixagem final, ou ainda aquela insuportável levada funky-afro-malaca que Lenine disseminou feito gripe suína em qualquer intérprete e produtor de “música brasileira moderna”.
Aliás, estamos falando aqui de MCMB – música classe média brasileira. Porque popular, mesmo, é Calypso e Vitor & Léo – dois nomes que inclusive fizeram sucesso com coisas diferentes do esperado nos seus estilos musicais dentro do Brasil.
Completamente esfumaçada, coladinha no dub (por conseqüência, além do reggae óbvio) e com colaborações e parcerias de finíssima estirpe (Curumin, Gigante Brazil, BNegão, Guizado, Catatau, Bactéria, Chiquinho e muitos outros), este segundo disco de Céu tem a necessária elegância e classe que se espera de uma artista em ascensão e apadrinhada pelo stablishment. Acima de tudo, tem relevância, este artigo em extinção.
“Vagarosa” conta, desde a capa, com um bom gosto que merece ser valorizado. Eis um ótimo sintoma do”efeito Vanessa da Mata” para as novas cantoras brasileiras. Esta levou sua música a novos patamares no terceiro disco, “Sim”, um sucesso popular real com sua sonoridade mega-estereofônica e internacionalizada produzida por Mario Caldato e Kassin – e com a participação dos mestres do reggae jamaicano, Sly & Robbie, em diversas faixas.
Já Céu conseguiu fazer isso ainda melhor, pois o approach não é tão pop: livre da obsessão de emular um sambinha ou qualquer outra coisa “de raiz”, esta praga presente na maioria das suas concorrentes diretas, ela resolveu sair um pouquinho mais da caixa, olhou para o mundo em volta e, no final, trouxe um olhar musical voltado para a frente, mas sem esquecer de onde veio.
Tudo isso é bem diferente desse revivalismo meio vazio e careta que a maioria dos intérpretes de MCMB têm para oferecer: hello modernos reaças, não tem ninguém de pé descalço numa roda de samba e comendo feijoada neste momento… Com quem vocês estão falando? A música brasileira é um patrimônio com muito mais a dar do que isso, e este disco de Céu deixa esta certeza bastante clara. Trata-se de um legítimo exemplar de música brasileira contemporânea.
Merecem os parabéns também, é claro, a dupla de produtores Beto Villares e Gustavo Lenza, que agregaram uma série de efeitos, timbres, instrumentos e detalhes sampleados que saltam aos ouvidos nesse disco completamente smoked.
Se o primeiro disco de Céu já a deu a indicação para um Grammy, será uma injustiça se o reconhecimento não for maior do que isso nesta nova investida. Não é à toa que a Billboard, uma revista 100% porta-voz do mercado (e que aliás chega em versão nacional em outubro) vem pagando o maior pau para ela.
Alisson Avila
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