Notícia de hoje na Folha de São Paulo “revela” que a TV Globo veiculou uma matéria paga, com mais de quatro minutos (uma eternidade quando o assunto é televisão) para promover o novo Kia Soul, “o carro design”, dentro do programa Auto Esporte.
Como conta o UOL, a Kia Motors confirmou que o material exibido foi um publieditorial. A Globo informou à coluna de Daniel Castro que não veicula matéria paga e que vendeu uma ação de product placement para a montadora.
Ah, e daí?
O assunto tem tudo a ver com outro post recente aqui do blog, falando da reinvenção do jabá e do cruzamento-quase-fusão de jornalismo e publicidade.
Aliás, o que antes era um pecado mortal agora é oportunidade, como bem registrou a contracapa da recém-lançada revista Cartel 11, composta por todos os jornalistas demissionários da também recém-lançada Vice:
A primeira frase, “Jornalismo e Publicidade andam juntos”, muito dificilmente seria dita fora dos bastidores de uma redação, de um departamento comercial de veículo ou de um planejamento criativo de agência até pouco tempo atrás. Hoje, entretanto, ninguém mais sente vergonha de pagar para aparecer num contexto informativo e ainda dizer que fez isso.
Nem devia sentir, mesmo: o que acontece hoje é muito melhor do que no passado, pois derruba a hipocrisia que sustentava a tal imparcialidade do jornalismo. Este conceito sempre foi uma exceção, e não uma regra.
Mas esta transparência precisa ir adiante, pois não tem graça nenhuma você ver um comercial de mais de quatro minutos travestido de reportagem. É preferível abrir o jogo e dizer as coisas como elas são, comercialmente falando, como a Cartel dá a entender que fará. Há jeitos bem elegantes de fazer isso, sem fazer as ações perderem a sua aura. Vide a venerável Monocle.
Este é o lado esquisito da lógica do direito à informação. Todos os dias somos alvo de informações que deveriam ser espontâneas mas não são, pois alguém pagou, e achamos que é tudo “verdade”. Transparência total, neste caso, acabaria com a festa das agências que travestem marcas através do conteúdo ou de qualquer outra ação.
Difícil é entender como é que ainda tem gente que não entende porque o boca-a-boca e o viral se transformaram na resposta automática das pessoas para as mentiras a que são expostas no dia-a-dia. A velha imprensa já desistiu de desqualificar os blogs como fonte pouco confiável de informação. Agora nós podemos ir atrás de fontes fidedignas como os nossos amigos ou fóruns na internet para saber de outros pontos de vista e não há nada que um veículo de comunicação possa fazer contra isso – a não ser melhorar sua postura. O papel do jornalismo se relativizou por conta dos seus próprios erros e excessos e o resultado todo mundo já sabe.
Por outro lado… todas as marcas espertas entendem a importância do boca-a-boca. E aí começa tudo de novo: perfis falsos no Facebook, posts e tweets pagos, virais sem a marca na tela… Dessa vez não vai dar para botar a culpa nos jornais pelas mentiras 🙂
Alisson Avila
[…] discutem hipocritamente (ainda!) a divisão entre editorial e comercial, assunto que já comentamos aqui, a Monocle é capaz de juntar dez publieditoriais em uma única edição – e de um modo que […]